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Opinião Artigo

Aroma de Poesia

Por Adélia Prado

30/06/2022 às 14h49
Por: Jornal Classivale
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Aroma de Poesia

A memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos.

Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.

Diante do tempo, envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Porém, para a memória, ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis.

Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão perto, nossos pais ainda vivem.

Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.

A capacidade de se emocionar vem daí, quando nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira.

Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você – foi o fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de uma fossa – e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, aquela época.

Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos – já adultos ou até idosos – e voltando a se comportar como adolescentes bobos e imaturos.

Encontros de turma são especiais, por isso, resgatam as pessoas que fomos, garotos cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e debilóides, como éramos há 20, 30 ou 40 anos.

Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos.

Mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.

A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem eles percebem que crescemos. Seremos sempre crianças, não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos.

Para eles, a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das histórias contadas ao cair da noite ... Ainda são muito recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.

Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas.

Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, para as arestas, coloca um band-aid na dor.

Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando.

Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme, uma música antiga, um lugar especial.

Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve daqui, seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram.

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Angela de Padua SchnoorHá 4 meses Rj. PetrópolisExtenso e aborrecidamente óbvio, vulgar.
MCarmen PaivaHá 4 meses Mogi das Cruzes SPTexto maravilhoso, como outros tantos da autora. Só não sei se seremos eternos nas memórias daqueles que nos amaram, e nos amam. Não seria muita pretensão??? Nos dias de hoje,fala-se de "amores líquidos"...
Fátima Há 7 meses Cuiabá MTAmei, simplesmente o conto de ontem, de hoje. Maravilhoso. Mulher você fez eu relembrar a minha juventude que fora magnífica.
Maria ClaraHá 1 ano São Paulo/ SPTexto maravilhoso! ???????????????? Você entra na alma de cada leitor.
gilberto wartuschHá 1 ano MairiporãAdélia, você conseguiu escrever tudo o que penso e acredito, . . . verdades da vida que todos possuem. Tenho 74 anos para mim, o passado é lindo, triste as vezes, mas rico em lembranças inesquecíveis que brotam todos os dias em nosso coração. DEUS que nos proporcionou isto por aqui, algum dia, creio muito nisto, . . . vai nos levar e conceder outras SURPRESAS MARAVILHOSAS, . . . a ti Adélia muito obrigado pelo lindo texto, profundo e verdadeiro, a ELE todo o louvor e gratidão SEMMMPRE.
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