Olha que coisa mais linda/Mais cheia de graça/É ela menina/Que vem e que passa/Num doce balanço, a caminho do mar. (Vinícius e Tom Jobim)
Era uma linda manhã de verão. Céu azul como poucas vezes se via. Um ventinho suave vindo do mar balançava as folhas dos coqueiros e despenteava as amendoeiras. De repente, lá vinha ela. Saíra de um mergulho daquele mar calmo, que se acalmara para honrar sua beleza. Talvez tivesse saído de uma concha lá do fundo do mar, qual uma Afrodite dos tempos modernos. Ela era estonteante. Caminhou até sua barraca de praia, lá apanhou sua canga e calçou sandálias de salto que realçavam ainda mais sua elegância e caminhou para o calçadão de Guarapari.
Ante toda sua beleza, seu meneio de cadeiras, seu sorriso, seus olhos castanhos, seus cabelos esvoaçantes e negros como as asas da graúna, suas pernas que fariam inveja a Marlene Dietrich, seus seios de Vênus de Milus, seu corpo de violão, seu... não sei mais o que, muitas coisas insólitas começaram a acontecer.
Os semáforos pararam de funcionar. Os marmanjos começaram a babar. Os carros buzinavam. As mulheres roíam as unhas de inveja. Componentes de uma banda de música que ensaiava, deixaram o ensaio e formaram um cortejo atrás da morena tocando “pisa, pisa morena, pisa com garbo, que um relicário, um relicário euÿþ vou fazer, com um pedaço, de minha capa, que há de pisar, que há de pisar os teus lindos pés”. Cinco executivos que saíam de uma reunião, ao ouvirem a música e virem a morena, correram, tiraram seus paletós – e inspirados pela música – estenderam-nos no chão para que a morena pisasse. E ela o fez com a maior galhardia. E o cortejo aumentava. Um caminhão do corpo de bombeiros parou – ninguém mais estava preocupado com o incêndio - e os bravos soldados desceram e foram se postar ao lado da morena, para protegê-la do fogo de algum fã mais ardoroso e afoito. E o cortejo aumentava. Um pelotão da polícia militar que fazia ordem unida recebeu a ordem de olhar à direita, mas eles olharam para a esquerda, para onde a morena passava, para desespero do comandante, que depois deixou os soldados entregues à própria sorte e foi acompanhar o cortejo. Os eternos beberrões que lotavam os bares da orla saíram de suas cadeiras e foram acompanhar o cortejo. Claro que levando suas bebidas! Das janelas dos apartamentos, ouviam-se vivas e palmas àquela que a todos parecia a mais bela. O dono de uma floricultura enfrentou todo aquele cortejo, chegou perto da diva e lhe ofertou uma rosa vermelha. Foi aí que todos morreram de inveja. Ela aceitou a rosa e pespegou-lhe um beijo na face. E de emoção, ele teve que ser segurado, pois ensaiou um desmaio.
E a bela acenava para todos, fazendo a todos delirar. Mas como tudo o que é bom dura pouco, ela chegou a seu destino, um apartamento que alugara para passar uns dias em Guarapari. Subiu uma pequena escada e, antes de entrar no saguão do edifício para pegar o elevador, virou-se para a multidão e mandou beijinhos para todo mundo, seu séquito, que a acompanhava desde sua saída gloriosa do mar. Foi uma apoteose de aplausos.
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